segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Tributo a ARY DOS SANTOS
























Celebrámos esta semana os 25 anos (F. 18 Jan. 1984) do desaparecimento de "um dos maiores" poetas da Literatura Portuguesa, por muitos injustamente esquecido.
Na minha adolescência e acompanhando os meus pais conhecí parte da obra deste fabuloso poeta que após a sua morte muita saudade deixou.
Fabuloso declamador, irreverente e polémico, soube sempre honrar os seus princípios e convicções.
Aqui lhe presto esta minha humilde homenagem, na esperança de que os seus poemas nunca sejam esquecidos.
Obrigado por tudo, camarada Ary!


Era uma vez um país
Onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.

Onde entre vinhas, sobredos
Vales, socalcos, searas
Serras, atalhos, veredas
lezirias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje se diz
que nos tempos do passado
se chamava a esse país
Portugal suicidado.

Poema de: Ary dos Santos

(in. As Portas que Abril Abriu - 1975)

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