sábado, 19 de abril de 2014

(50) - Meio Século











Não quero ninguém a prender-me os braços, as pernas, a formatar-me a cabeça,
a rotina é uma prisão que leva ao cansaço e à saturação,
o purgatório é quando não somos felizes,
e por norma só explodimos depois do copo cheio.
Andámos para cá e para lá a amontoar coisas,
e no final partimos só com a roupa do corpo,
e nem reparámos nas árvores, ou nas flores,
nem nunca cheirámos os aromas que a Natureza nos ofereceu.
Apenas existimos para espezinhar todas as outras espécies,
numa ânsia desenfreada em conseguir a felicidade,
através das coisas e de bens materiais.
Para muita gente o purgatório é quando não tem dinheiro,
e o cifrão é a cruz da civilização.
O meu cansaço é igual ao meu tamanho em dobro,
e a força que tive já não a tenho,
e questiono-me para onde devo de ir
...e de onde venho.
Sei que nasci algures em Novembro,
mas, muitas coisas sobre a minha infância já não me lembro.
Esta árvore aqui ao pé onde estou sentado serve-me de abrigo,
e tantas são as vezes que quero estar a sós comigo,
e sair à rua para andar em contramão.
As pessoas, quase todas elas, cansam-me cada vez mais,
e muitas, são as saudades que tenho dos meus pais.
A solidão não me assusta e nunca me assustou,
e a morte, já uma vez me visitou,
eu consegui fugir dos braços dela e nadar,
e, quando novamente vier, que seja rápida a me levar.
As saudades, são feridas que nunca saram,
e o unguento para as saudades é fazer novas Amizades.
A noite é a parte mais linda do dia,
e a felicidade eterna é utopia.
O céu e o inferno estão lado a lado,
e eu todos os dias caminho com um Deus e o Diabo.
A minha vida esvai-se com o passar dos anos,
eu fui sempre contra o conceito, "uns servos, outros amos".
A exploração é o cancro da civilização,
e aguenta coração..., aguenta coração.
Um dia todo o meu tempo será passado junto ao mar,
onde me sinto bem e gosto de estar
e quero para sempre em suas águas descansar !


Henrique Mário Soares
08-11-2013  

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