quarta-feira, 7 de março de 2012

Verdes Anos - Carlos Paredes




Verdes Anos

Como chora esta guitarra neste dia de chuva
Verdes anos de Paredes com dedilhar decidido e fervoroso
Nas cordas de uma viola toda cheia de versos com palavras mudas
Mas real de timbre de alma desafiando o cair da tarde
 
 
São verdes os anos
Mas madura a vida
São longos os acordes
De uma guitarra sempre a acordar a interminável alma
Em cada dedilhar sente-se a vida da gente
De toda a gente
Ali, a fervilhar em cada corda acordada para todo o dia e para toda a noite
Nervos que correm sem demanda em duas mãos cheias de esperança
 
 
Não é sangue que corre naqueles finos e firmes dedos
Mas sim o sonho que percorre num frenesim dourado todas as cordas daquela guitarra
E os dedos de ambas as mãos servem apenas para servir o destino
É a escravidão sentimental de toda uma alma de um povo que tudo atravessa
 
 
Atravessa o sonho e a esperança
O antes, o agora e, quem sabe, o amanhã que desponta em cada dedilhar
E os sons acordam da vontade de a vida continuar
Para que ela nunca perca tempo no tempo que perdemos
Em cada nota solta-se uma lágrima de saudade
Desses verdes anos
Em cada som sente-se a calma e a força da vontade
De todo um povo que quer ser gente
 
 
A melodia abate-se sobre o nosso coração e nele se entranha
Estranha-se o instante dilacerado pelo tempo que passa velozmente
Ficando apenas o momento de verdade em cada pauta por escrever,
A nostalgia serve-se fria e as veias correm quentes na memória
Paredes canta a guitarra como canta a vida
Verdes são os anos da nossa verde infância,
Agradecemos a lembrança
E os nossos costumes
Somos saudosistas
Choramos por tudo e por nada:
E depois?
 
 
Só nós é que temos a dar conta da nossa vida aos nossos verdes anos
Mais ninguém!                                                              
21.11.2003j.oliveira

p.s. texto escrito pelo amigo Joaquim Oliveira e gentilmente enviado por email
obrigado Amigo, um forte abraço                               

3 comentários:

nêspera disse...

Carlos Paredes = Génio!

O poema é lindíssimo... Parabéns, Joaquim Oliveira.

Bjis :)

nêspera disse...

Esqueci-me de referir...
A 1.ª vez que vi Carlos Paredes ao vivo tinha 5 anos. Foi num local lindíssimo, com uma acústica fabulosa: o castelo da minha terra natal.
No mesmo dia, assisti a Bailados de Verde Gaio, com a bailarina Magda Cardoso.
Tinha 5 anos e tenho tudo gravado na memória. Impressionante!

:)

Henrique Mário Soares disse...

foi com certeza um espectaculo fabuloso, e eu morto de tristeza por nunca o ter visto ao vivo :( paciência resta-me os cds e videos.