Esta reflexão foi escrita por um estrangeiro, mais concretamente por "Jaques Amaury" e chegou-me há caixa de correio através da gentileza de um amigo de infância.
É por demais caricato que tenha de ser "um estrangeiro" a colocar o "dedo na ferida" e a apontar os defeitos de uma sociedade e da grande maioria da sua comunicação social que vendida a "lobbys" e subjugada ao poder e interesses de uma minoria que tudo controla e tudo vígia, tende a ser cada vez mais afunilada, e que é incapaz de ser plural como devia ser.
As TVs, Rádios e Jormais deste país são na sua maioria controladas por grupos económicos e pelo grande capital, que para se perpetuar no poder e para manter os "tachos" e o "bon vivant" de uma minoria tudo faz.
A informação é controlada e o mais importante é "intoxicar" a população com noticias irrelevantes e sem conteudo jornalistico, pois jornalista que ouse afrontar o sistema instituido tem por certo guia de marcha para o desemprego.
Não é por acaso que nos noticiários em horário nobre e em todas as formas de informação (escrita) "falam" sempre os mesmos, e que para se escutar vozes dissonantes tenha que se procurar outos canais de informação não afecto aos "lobbys" instalados.
Afinal a cassete que era de uns, passou para outros, que, temerosos de perder as suas mordomias, "vomitam" ideias repetitivas e negam a realidade que está há vista de todos aqueles Portugueses que sendo esclarecidos conseguem não se deixar "intoxicar" por este gentalha que deve às conquista de Abril o acto de poder opinar.
Por tudo isto tomo a liberdade de transcrever este texto, que acho deveria ter sido divulgado para esclarecimento de todos nós.
"Portugal atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história que terá de resolver com urgência, sob o perigo de deflagrar crescentes tensões e consequentes convulsões sociais.
Importa em primeiro lugar averiguar as causas. Devem-se sobretudo à má aplicação dos dinheiros emprestados pela CE (Comunidade Europeia) para o esforço de adesão e adaptação às exigências da União.
Foi o país onde mais a CE investiu "per capita" e o que menos proveito retirou. Não se actualizou, não melhorou as classes laborais, regrediu na qualidade da educação, vendeu ou privatizou a esmo actividades promordiais e património que poderiam hoje ser um sustentáculo.
Os dinheiros foram encaminhados para auto estradas, estádios de futebol, constituição de centenas de instituições publico-privadas, fundações e institutos, de duvidosa utilidade, auxilios financeiros a empresas que os reverteram em seu exclusivo benefício, pagamento a agricultores para deixarem os campos e aos pescadores para venderem as embarcações, apoios estrategicamente endereçados a elementos ou a próximos deles, nos principais partidos, elevados vencimentos nas classes superiores da administração publica, o tácito desinteresse da justiça, frente à corrupção galopante e um desinteresse quase total das Finanças no que respeita à cobrança na riqueza, na Banca, na especulação, nos grandes negócios, desenvolvendo, em contrário, uma atenção especialmente persecutória junto dos pequenos comerciantes e população mais pobre.
A politica Lusa é um campo escorregadio onde os mais hábeis e corajosos penetram, já que os partidos cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes, permitindo que com as alterações governativas permaneçam, transformando-se num enorme peso bruto e parasitário. Assim, a monstruosa Função Publica, ao lado da classe dos professores, assessoradas por sindicatos agueridos, de umas Forças Armadas dispendiosas e caducas, tornaram-se não uma solução, mas um factor de peso nos problemas do país.
Não existe partido de centro já que as diferenças são apenas de retórica, entre PS (Partido Socialista) que esteve no governo e o PSD (Partido Social Democrata) de direita, agora mais conservador ainda, com a inclusão de um novo lider, que tem um suporte estratégico no PR (Presidente da Républica) e no tecido empresarial abastado.
Mais à direita, o CDS (Partido Popular), com uma ctividade assinalável, mas com telhados de vidro e linguagem publica, diametralmente oposta ao que os seus princípios recomendam e praticarão na primeira oportunidade.
À esquerda, o BE (Bloco de Esquerda), com tantos adeptos como o anterior, mas igualmente com uma linguagem difícil de se encaixar nas recomendações do governo, que manifesta um horror atávico à esquerda, tal como a população em geral, laboriosamente formatada para o mesmo receio.
Mais à esquerda, o PC (Partido Comunista) vilipendiado pela comunicação social, que o coloca sempre como um perigo latente e uma extensão inspirada na União Soviética, oportunamente extinta, e portanto longe das realidades actuais.
Assim, não se encontrando forças capazes de alterar o status, parece que a democracia pré-fabricada não encontra novos instrumentos. Contudo na génese deste beco sem saída, está a impreparação, ou melhor, a ignorãncia de uma população deixada ao abandono, nesse fulcral e determinante aspecto. Mal preparada nos bancos das escolas, no secundário e nas faculdades, não tem capacidade de decisão, a não ser a que lhe é oferecida pelos orgãos de comunicação. Ora e aqui está o grande problema deste pequeno país; as TVs as Rádios e os Jornais, são na sua totalidade, pertença de privados ligados à alta finança, à industria e comércio, à banca e com infiltrações accionistas de vários países.
Ora, é bem de ver que com este caldo, não se pode cozinhar uma alimentação saudável, mas apenas os pratos que o "chefe" recomenda. Daí a estagnação que tem sido cómoda para a crescente distância entre ricos e pobres.
A RTP, a estação que agora engloba a Rádio e TV oficiais, está dominada por elementos dos dois partidos principais, com notório assento dos sociais-democratas, especialistas em silenciar posições esclarecedoras e calar quem levanta o mínimo problema ou dúvida. A selecção dos gestores, dos directores e dos principais jornalistas é feita exclusivamente por via partidária. Os jovens jornalistas, são condicionados pelos problemas já descrito e ainda pelos contratos a prazo determinantes para o posto de trabalho enquanto, o afastamento dos jornalistas seniores, a quem é mais difícil formatar o processo a pôr em prática, está a chegar ao fim. A deserção destes, foi notória.
Não há um unico meio ao alcance das pessoas mais esclarecidas e por isso, "non gratas" pelo establishment, onde possam dar luz a novas ideias e á realidade do seu país, envolto no conveniente manto diáfono que apenas deixa ver os vendedores de ideias já feitas e as cenas recomendáveis para a manutenção da sensação de Liberdade e da prática da apregoada democracia.
Só uma comunicação não vendida e não alienante, pode ajudar a população, a fugir da banca, o cancro endémico de que padece, a exigir uma justiça mais célere e justa, umas finanças atentas e cumpridoras, enfim, a ganhar consciência e lucidez sobre os seus desígnios"
Jaques Amaury
Sociólogo e Filosofo Francês
Professor na Universidade de Estrasburgo