domingo, 24 de abril de 2011

Origens e Evolução do Movimento de Capitães

Este livro é dedicado ao esclarecimento do Povo Português, que para uma melhor desmistificação de todos os que, nunca tendo tomado parte do Movimento de Capitães, não só sempre alardearam pertencer-lhe e se apresentaram como falsos arautos de uma causa pela qual nunca combateram, como também sempre contribuiram para a sua destruição.

"Os homens fazem a sua própria história, contudo não a fazem arbitrariamente, nas condições escolhidas por eles, mas antes sob as condições directamente herdadas e transmitidas pelo passado.
A tradição de todas as agressões passadas pesa inexoravelmente sobre a consciência dos vivos. E mesmo quando parecem ocupados em transformar-se, a eles e às coisas, em criar algo de absolutamente novo, é precisamente nessas épocas de crise revolucionária que se evocam respeitosamente os espiritos do passado, tomando-lhes de empréstimo os nomes, as palavras de ordem, as roupagens, para surgir no novo palco da história sob respeitável disfarce e com essa linguagem emprestada.
As revoluções burguesas como as do século XVIII precipitam-se rapidamente de sucesso em sucesso, os seus efeitos dramáticos superam-se uns aos outros, os homens e as coisas parecem possuídos do fulgor dos diamantes, o êxtase é o estado-permanente da sociedade, mas tais revoluções duram pouco.
Atingem o auge rapidamente e uma longa modorra apodera-se da sociedade antes que ela tenha aprendido e assimilado serenamente os resultados do seu periodo de luta.
Pelo contrário, as revoluções proletárias com as do século XIX, fazem a sua autocrítica constante, interrompem continuamente o seu curso, voltam novamente ao que parece já estar resolvido para recomeçar em seguida, troçam impiedosamente das hesitações, fraquezas e misérias das suas primeiras tentativas, parecem derrubar o seu adversário apenas para lhe permitir retirar da terra novas forças e se erguer novamente agigantado, diante delas, recuam constantemente ante a imensidade dos seus objectivos até que finalmente se crie uma situação que impossibilite qualquer retorcesso e na qual as próprias condições proclamem:
Hic Rhodus, hic salta - (aqui Rhodes, salta aqui) «chegou a hora da verdade, mostra aquilo do que és capaz» (É aqui que está a rosa, é aqui que é preciso dançar.)
Confundidas frequentemente com golpes de Estado não se restringem como estes a simples mudanças de élites dirigentes, obtidas ou não de forma violenta.
A palavra REVOLUÇÃO tão maltratada pelo uso, tomada de empréstimo por sectores descaradamente direitistas, carece de acerto quanto ao seu significado:
REVOLUÇÃO é a tomada do Poder por parte de uma classe em relação a outra dominante. Corolário lógico da definição anterior, comporta ainda uma condição necessária, mas não suficiente: de forma violenta.
Lógico, porque a prática revolucionária historicamente o evidenciou com tal.
Militarmente os acontecimentos de 25 de Abril prespectivam-se nesse dia sob o qualificativo simples de golpe de Estado.
Mas foi ainda nesse mesmo dia que por pressão das massas populares se metamorfoseou desde o início num complexo processo revolucionário, em relação ao qual não constitui arrojo de previsão ser entendido como ainda longe de ter terminado.
A palavra REVOLUÇÃO, incisivamente irreversível, não cabendo na acepção que nos proporciona a visão limitada do momento, encontra eco na certeza que todos os Portugueses politicamente explorados e conscientes têm de ver consumada. 

Texto retirado do livro:
"Origem e Evolução do Movimento de Capitães" - Diniz de Almeida - Edições Sociais - Março 1977 


 Obs: feliz aquele que herda de seus pais, o conhecimento da história que muitos tentam apagar.    

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